segunda-feira, 20 de maio de 2013


As Bruxas de Salem - a história real
Em 1692 começou uma caça à bruxas  na vila de Salem, Massachusets, nos Estados Unidos, que logo se espalhou pelas vilas vizinhas. Centenas de de pessoas foram acusadas de feiitiçaria e vinte foram executadas como bruxas. Os historiadores, contudo, esclareceram e apontaram as verdadeiras razões dessa onda de terror na época da colonização norte-americana no final do séc. 17.
Em 1600,  um grupo de imigrantes ingleses conhecidos como "puritanos" se estabeleceram em emMassachusets. Desprezados em sua terra vieram para o Novo Mundo para poderem viver segundo os seus princípios. Para esse grupo radical todo o bem viria de Deus e todo o mal estaria ligado ao demônio; acreditava ainda, e temiam, em particular, as bruxas. Segundo eles, estas agiam com, e sob, o demônio, que dominava até mesmo pessoas irrepreensiveis da comunidade. Essa era uma época de muitas superstições, poucos estudos e cultura limitada a poucas famílias e aos ministros religiosos.
Em 1689, Samuel Parris, ministro anglicano, havia se mudado para a aldeia de Salem com sua família e dois escravos, Tituba e Jhon, um nativo índio. Em janeiro de 1692, a filha de Parris, Elizabeth Parris, 9 anos, conhecida como Betty, adoece. É a doença de Betty, o gatilho para a "caça às bruxas" e posteriormente, os julgamentos e as execuções. Levada ao médico, William Griggs, ele não consegue diagnosticar a doença em Betty e sob pressão do pai, Samuel, aponta a bruxaria como causa do mal na criança. Isto foi o suficiente para a  histeria tomar conta da comunidade.
Pouco antes, um surto de varíola atacou as crianças de Salem, e esta doença, para a crença da época, tinha origem demoníaca. Betty e uma sobrinha dos Parris começaram a se comportar de forma estranha, com convulsões, gritos e outras formas de histeria. Inquiridas, as meninas alegaram influência dos escravos da família Tituba e de duas mendigas da Vila, Sara Good e Sara Osborne. Estas, levadas diante dos magistrados da vila negaram qualquer influência mas Tituba afirmou que estava dominada por um demônio. As três foram então, levadas à prisão.
Estava plantada e crescia a semente da paranóia que atingiu até pessoas respeitáveis como Martha Corey, participante fiel da igreja local. Em 27 de maio de 1692, o governador William Phipps, ordenou a criação de um Tribunal Especial para ouvir e decidir sobre esses casos, em Suffolk, Essex e nos condados de Middlesex. Em 10 de junho de ano ocorreu o primeiro enforcamento de uma acusada, uma pobre mulher promíscua e maledicente da vila. 
O contexto histórico desse drama mostra disputas familiares de terras, interferência religiosa e intensa superstição. Inocentes pagaram injustamente com suas vidas e outros tiveram seus nomes envolvidos sem motivos reais. 
Por fim, O reverendo Parris e sua família foram forçados a se afastar de Salem em 1696, devido à pressão da comunidade e seu Noyes filho morreu em plena insanidade mental. A religião puritana começou a desvanecer-se e perdeu sua influência e credibilidade, como resultado direto dos julgamentos e execuções. A partir daí, a sociedade colonial começou a questionar as crenças ultrapassadas e supersticiosas dos puritanos, bem como de outros grupos religiosos similares.
Restou uma frase de Mary East, injustamente enforcada em 22 de setembro de 1692:
"Se for possível, que não se derrame mais  sangue inocente ... Eu estou limpa deste pecado".
As feiticeiras de Salem
Há três séculos, o vilarejo de Salem, na colônia americana da Nova Inglaterra, foi tomado de assalto por uma onda de intolerância e de fanatismo religioso, vitimando quase vinte pessoas. Esse infeliz incidente, e a caça às feiticeiras que então se desencadeou, serviu como um alerta para que os princípios de liberdade religiosa fossem assegurados na história dos Estados Unidos.
Salem é visitada por Satanás
"É uma certeza que o demônio apresenta-se por vezes na forma de pessoas não apenas inocentes, mas também muito virtuosas."
Mister Parris, o pobre reverendo de Salem, estava exasperado. Betty, a sua única filha de apenas nove anos, acometida por uma série de estranhos espasmos, jogou-se petrificada sobre o leito, negando-se a comer. Naquela perdida cidadezinha, ao norte de Boston, não existiam muitos recursos além de um velho médico que por lá se perdera. Chamado para diagnosticar a doença, atestou para o aterrado pai que a menina estava era enfeitiçada e que nada lhes restava a fazer além de uma boa e sincera reza. A conclusão do doutor correu de boca em boca e em pouco tempo os pacatos habitantes do pequeno porto tomaram conhecimento de que Satanás resolvera coabitar com eles.
Simultaneamente outras garotas, as amiguinhas de Betty, começaram a apresentar sintomas semelhantes aos da filha do clérigo. Rolavam pelo chão, imprecavam, salivavam, grunhiam e latiam. Foi um pandemônio. Pressionado a tomar medidas, Parrisresolveu chamar um exorcista, um caçador de feiticeiras, que prontamente começou sua investigação.
No século XVII, poucos punham em dúvida a existência de bruxas ou de feiticeiras porque uma das máximas daqueles tempos é de que "é uma política do Diabo persuadir-nos que não há nenhum Diabo".
A inquisição
Inquiridas por CottonMather, que iria se revelar uma espécie de Torquermada americano, as garotas contaram que o que havia desencadeado aquela desordem toda fora uns rituais de vodu que elas viram Tituba fazer. Essa era uma escrava negra que viera das Índias Ocidentais, e que iniciara algumas delas no conhecimento da magia negra. Durante o último longo inverno da Nova Inglaterra, ela apresentara várias vezes os feitiços para uma platéia de garotas impressionáveis. Educadas no estreito moralismo calvinista e no ódio ao sexo que o puritanismo devota, aquele cerimonial animista deve ter despertado as fantasias eróticas nelas. Provavelmente culpadas por terem cedido à libido ou apavoradas por sonhos eróticos, as garotas entraram em choque histérico. Seja como for o caso, merecia ser ouvido num tribunal. Toda a Salem se fez então presente no salão comunitário.
O tribunal
Quando colocadas num tribunal especial, presidido pelo juiz S. Sewall, e inquiridas pelos juízes Corwin e Hathorne, as meninas começaram a apontar indistintamente para várias pessoas que estavam na sala apenas como curiosas. O depoimento mais sensacional foi o da escrava Tituba, que não só confessou suas estranhas práticas como afirmou que várias outras pessoas da comunidade também o faziam.
A partir daquele momento, a cidadezinha que já estava sob forte tensão se transformou. Um comportamento obsessivo


tomou conta dos moradores. Uma onda de acusações devastou o lugarejo. Vizinhos se denunciavam, maridos suspeitavam das suas mulheres e vice-versa, amigos de longa data viravam inimigos. Praticamente ninguém escapou de passar por suspeito, de ser um possível agente do demônio. Não demorou para que mais de 300 pessoas fossem acusadas de práticas infames. O tribunal que entrou em função em junho de 1692 somente parou em outubro. Resultou que dezenove pessoas foram enforcadas.


A luta contra a bruxaria

Apesar de existirem disposições papais que datam do século XV, como a Summisdesiderantesaffectibus, de Inocêncio VIII, e o volumoso tratado dos dominicanos (o MalleusMaleficarum, de 1486), que orientavam na luta contra a bruxaria, o mundo anglo-saxão aderiu a ela muito mais tarde. Na Inglaterra, os procedimentos jurídicos antifeitiçaria somente foram fixados em 1664, com os SuffolkAssizes, de sir MathewHale, mas nunca chegaram às trágicas dimensões que a caça às bruxas dos países católicos. A explicação para isso deve-se a que não existia entre os protestantes uma instituição tão poderosa como a Igreja Católica, que via na heresia a marca da subversão. Também não parece acertado o argumento de Rossell Hope Robbins, autor da Encyclopediaofwitchcraftanddemonology, (Enciclopédia de feitiçaria e demonologia), de 1959, de que a caça às bruxas, "nunca foi do povo", mas sim um hábil instrumento de padres e advogados para enriquecer por meio do seqüestro dos bens dos denunciados.
O povo e a bruxaria
É certo que feitiços e envolvimentos com bruxas se perdem nos tempos imemoriais da humanidade, mas somente no século XV é que passou a ser considerado herético. Não parece ser possível acreditar que tal sentimento não correspondesse aos anseios mais profundos do povo, às fobias tenebrosas do homem comum. Keith Thomas, no seu monumental Religião e o declínio da magia, refuta existirem interesses econômicos nas perseguições, eis que a maioria das vítimas das caçadas era extremamente pobre, o que George Tindall confirma no seu capítulo sobre os acontecimentos de Salem.

É inquestionável que o povo acreditava sinceramente no maleficium, isto é, no dano causado pelas bruxas. Por um ou outro motivo, ele acumpliciava-se com as autoridades nas medidas tomadas para persegui-las e julgá-las. Na sociedade pré-iluminista, a existência do demônio era coletivamente aceita porque servia como uma explicação conveniente para acontecimentos estranhos, para as agressões injustificadas ao que lhes parecia inusitado, ao inesperado. Por outro lado, socorrer-se de feiticeiras e de bruxas sempre foi uma maneira de tentar influenciar pessoas ou coisas sobre as quais se tinha escasso poder.
A tentação do anonimato
É uma tentação irresistível poder fazer o mal a alguém sem correr riscos de ser descoberto. Arma do impotente, do covarde ou do fraco, o feitiço era uma maneira astuta de causar prejuízos a alguém odiado. A vítima, por sua vez, não tinha a mínima prova do que ou quem a mandou atingir. O malefício lançado contra alguém atuava igualmente como um poderoso instrumento de compensação psíquica largamente recorrido pelos desgraçados da vida. É uma forma, ainda que bem primitiva, de se alcançar a justiça. Os atos mágicos ou as seções endemoniadas, por sua vez, agem como anestesia aos padecimentos sofridos. De alguma forma, a possibilidade de ser atingido por um feitiço qualquer atua como um fator dissuasivo entre os poderosos. Um mandão, um prepotente, um déspota, poderia temer ser atingido por um "mau olhado" ou cair vitimado por poção encantada qualquer. Afinal eram as únicas coisas que os poderiam atemorizar, já que a justiça comum e mesmo Deus pareciam sempre estar do seu lado.
Os céticos frente à bruxaria
É sintomático esse medo das elites aos possíveis efeitos da bruxaria. O fato de que no influente Grande Catecismo do jesuíta Pedro Canísio, editado no século XVI, o nome de Satã aparecer 67 vezes, bem superior às dedicadas a Jesus. Mas deve-se a essas mesmas elites porém um freio às perseguições. Montaigne nos ensaios, de 1580, já ridicularizava esse tipo de coisa e na Inglaterra observou-se um número crescente de juízes que começaram a desconsiderar as sucessivas denúncias de bruxarias que chegavam às cortes, apesar de a legislação contra aquelas práticas só ter sido revogada em 1736. A perda do medo às bruxas também pode ser creditada à crescente expansão das luzes, aos avanços da razão, da educação e da lógica científica que culminaram na máxima "se não há diabo, não há Deus."
O fim da caçada

Deteve-se a matança em Salem quando as denúncias envolveram figuras eminentes da colônia, tal como a esposa do governador de Massachusetts e o pastor Samuel Willard, presidente do Harvard College. Enquanto a arraia-miúda foi enclausurada, acusada de práticas escusas, poucos se indignaram. O basta naquilo tudo foi dado quando os dedos dos fanáticos ousaram apontar para a elite local. Ainda em oito de outubro de 1692, circulou uma carta redigida por um intelectual da região, Thomas Brattle, que se horrorizara com os enforcamentos, revelando a loucura coletiva que tomara conta dos aldeãos. Segundo Perry Miller, que estudou as idéias que circulavam pelas colônias americanas daquele século, a letterde Brattle teria sido o primeiro documento iluminista produzido na América do Norte, pois criticou veementemente os prejuízos do fanatismo religioso. Entre outras coisas, Battle escreveu: "temo que os anos não apagarão essa desgraça, esta nódoa que essas coisas lançaram sobre nossa terra." E os processos dos endemoniados de Salem assim como começaram, num repente terminaram.
O macartismo


As perseguições às bruxas de Salem serviram, dois séculos e meio depois, como tema para que o teatrólogo Arthur Miller - sofrendo as intimidações feitas pelo Comitê de Atividades Anti-Americanas do senador MacCarthy -, escrevesse a peça The Crucible (traduzida por nós como As bruxas de Salem). Encenada no início dos anos de 1950, eram evidentes as analogias que Miller fez entre os padecimentos da esquerda americana na época da Guerra Fria, com os tormentos sofridos pelos injustamente acusados em Salem.

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