segunda-feira, 20 de maio de 2013



A Raça dos Lobisomens
                 
                   Autor: Sauron, Taberna do Guerreiro, David Lucas
Livro dos Lobisomens - Sabine Baring-Gould

1 – Incio
Falar de lobisomens é um tanto complicado, pois é uma criatura abordada em lendas do mundo inteiro, sendo notável nuances de país para país, de região para região ou até mesmo em locais próximos. No entanto tentaremos nos embasar nos mitos mais antigos e “originais” da Europa, principalmente daqueles que ocorriam na Idade Média. Em nenhum momento levaremos em conta a lenda brasileira, já que essa pode ser encontrada facilmente em livros e pela internet.
2-Origem da Lenda
Inicialmente vamos falar um pouco da Lenda de Licaon que teoricamente dá origem aos mitos de lobisomens. Licaon era um rei que viveu na Grécia Antiga que governava as terras egeias de Licânia, sendo pai de 50 crianças e tendo várias esposas. Suas terras eram as mais afortunadas da região e eram visitadas conspicuamente por deuses, sendo os mais frequentes Apolo e Atenas. Certo dia Zeus e Hera, disfarçados de mortais, viajavam pela Grécia até que passaram por Licânia e lá pediram abrigo ao seu soberano. Generoso e bondoso Licaon os concederam o pedido.
Os filhos de Licaon, desconfiados dos hóspedes, achando que eles não eram mortais e sim mentirosos, procuram pela cidade uma criança e a mataram servindo sua carne no banquete aos deuses. Conforme as lendas dizem a criança era um dos filhos de Zeus com uma ninfa ou como uma influencia de Hera que vingativa induziu a morte do filho de Arcádia, uma amante de Zeus.
Zeus então ficou sabendo rapidamente do que houve e tomado pela fúria amaldiçoou os 50 filhos de Licaon, transformando-os em lobos assim como Licaon e os outros 17 filhos imortais de Licaon com ninfas deram origem a primeira raça de vampiros os Vrikolakas. Sendo assim surgem as duas primeiras gerações de Vampiros e Lobisomens.
Outra lenda comum surgiu na Idade Média, onde Bruxas amaldiçoavam seus amantes ou homens que as fizessem mal os transformando em aberrações metade lobo e metade homem. Isso se deve pelo fato de os lobos serem muito temidos em certas regiões da Europa. Nessas lendas a maldição ocorria nas noites de lua cheia e os lobisomens só infectavam outros homens, mulheres não eram capazes de se transformar graças a uma resistência natural do corpo feminino ao veneno dos lobisomens. Tais monstros também não podiam ter filhos pelo fato de não terem mulheres na espécie e por serem inférteis.
Uma lenda mais atual e bem detalhada dos lobisomens vem do interior da Alemanha por volta de 1591, mais corretamente das cidades de Colongne e Bedburg. Tal fato se dava pelo fato das pessoas ainda temerem os lobos, evitando até mesmo viagens longas de uma cidade para outra. Nesta época é relatado que era corriqueiro encontrar membros humanos retalhados e espalhados por florestas, ruas e estradas.
A primeira lenda de lobisomens registrada remete ao caso de Peter Stubbe. Numa noite de caçada moradores buscavam acabar com os lobos da região que atormentavam suas vidas, ao encurralarem um dos lobos atingiram-no com lanças e arpões. Porém o animal não fugiu e começou a se transformar em um homem. Esse homem era Peter Stubbe. Os aldeões conheciam Stubbe e o levaram para um julgamento, sendo este torturado e declarou ter realizado 16 assassinatos compreendendo 2 mulheres grávidas e 13 crianças. Segundo ele isso começou quando fez um pacto com o Demônio. Mais tarde com a ajuda de um cinturão magico passou a matar as pessoas, tanto reais quanto imaginárias. Posteriormente ganhou poderes e transformava-se em lobo realizando crimes ainda mais cruéis. Após condenado Peter teve sua pele arrancada, braços e pernas quebrados e finalmente foi decapitado. Sua lenda se espalhou pelo mundo, sendo talvez a primeira lenda registrada de licantropia.
3-Cientificamente
Para a ciência a licantropia seria uma doença real (do grego “”lykoi” – lobo e ”anthopos” homem) que deu origem à lenda do lobisomem como conhecemos hoje. As vítimas dessa doença agem como se fossem lobos e acreditam que os são. No entanto, tal doença não gera qualquer tipo de distúrbio físico, somente o mental, isto é, a pessoa somente crê que é um lobisomem, mas jamais se transforma em um.
Existe também uma segunda explicação que remete ao período medieval, mais precisamente na dieta de aldeões que consistia basicamente em pão, podendo estes estar infectados por um fungo chamado Ergot. Este fungo possuía alcaloides quimicamente relacionados com Ácido Lisérgico vulgarmente conhecido como LSD. Tal substância causava alucinações fortíssimas, mudanças de humor, perda da percepção do espaço e tempo, perda de autocontrole e surtos de agressividade. Este fenômeno insinua, que, as alucinações causadas por essa droga sejam a origem dos mitos sobre lobisomens.
Outra teoria assinala doenças como a raiva e a porphyria como possíveis causas da “licantropia mental”. Na primeira um vírus que é transmitido pela mordida de animais como cães, lobos e morcegos ataca o sistema nervoso gerando euforia descontrolada, contrações dos músculos do pescoço e maxilar impedindo a vitima de beber água, daí o segundo nome da doença: Hidrofobia. O infectado morre em cerca de 5 dias após adquirir a doença.
Já a porphyria é marcada por apresentar algumas características muito semelhantes àquelas mencionadas nos casos de licantropia. Ela leva a vítima a ter sensibilidade à luz, fazendo-a preferir locais escuros e andar a noite(fotosensibilidade). Além disso, a pele passa a perder sua cor natural ficando com uma aparência doentia. Outra característica marcante é a vermelhidão dos dentes e unhas do infectado devido ao acumulo de um constituinte da hemoglobina do sangue. Tal doença, além de tudo, vem escoltada por uma gama de alucinações e delírios.

4-Tipos de Licantropia
Apesar de tudo e como foi dito no inicio deste texto os lobisomens aparecem nas estórias de várias maneiras e sendo vítima de vários fatores. Dentre eles maldições, feitiços, doenças, etc. Para tal os lobisomens foram divididos em 3 tipos principais:
Lobisomem Natural ou Verdadeiro:
A licantropia natural ou verdadeira é aquela que se refere ao homem que nasceu lobisomem ou foi transformado por motivos genéticos ou se voluntariou em algum ritual. É muito comum na Idade Média. Tal licantropo é tido como detentor de autocontrole sobre sua transformação e tem consciência de seus atos quando na forma de lobo.
O homem que já nascem lobisomem é chamado de filho de Licaon (descendência com o rei grego), já aqueles que se transformam em através de rituais e pactos demoníacos são chamados de Lobisomens Ritualísticos. A única diferença entre esses dois tipos é que o ultimo possui uma certa fragilidade à símbolos religiosos. Vale lembrar que aquelas que já nascem lobisomens só terão sua “doença” despertada na puberdade.
Este tipo de lobisomem necessita se alimentar de carne fresca pelo menos uma vez por dia, ou perdem o controle de seus “poderes” e podem ficar descontrolados atacando qualquer pessoa que ver, inclusive seus familiares e amigos. Além disso, podem acabar se transformando em lobo para sempre. Nesse tipo de licantropia tanto homem quanto mulheres se transformam em lobos. Sendo ainda por cima frágeis a prata (não é explicado o porque de tal fragilidade).
Algumas plantas místicas como a Beladona, Wolfsbane e a Barreira das Rosas Vermelhas não surtem efeito com filhos de Licaon, mas são úteis contra Ritualísticos, pois causam danos a estes quando as tocam ou ingerem. No caso das barreiras de roseiras, os ritualísticos assim como qualquer criatura demoníaca, não conseguem ultrapassá-las; por isso são comuns em algumas cidades pequenas e vilarejos casas cercadas por roseiras vermelhas.
Os Lobisomens Verdadeiros e Ritualísticos adquirem apenas três formas: Humano (Hominídeo), Lobisomem (Glabro) e Lobo (Lupino), mas pode se demudar quando quiser (não estando restritos às noites de luz cheia).
Lobisomem Infectado:
Seria aquele que se transforma a partir da mordida ou arranhão de um lobisomem verdadeiro. Esse tipo por sua vez não possui controle algum de suas transformações que ocorrem nas noites de lua cheia. Além disso não possui lembranças de seus atos quando metamorfoseado. Geralmente é encontrado com roupas rasgadas e desmaiado por vários locais. Só possui duas formas Hominídeo e Lobisomem, sendo desprovido da transformação em lobo.
Quando transformados seu primeiro anseio é alimentar-se de carne fresca e crua, atacando qualquer um que surge em sua frente; em certos casos pode reconhecer amigos e parentes. São vulneráveis à Beladona e Wolfsbane, porém são imunes às barreiras de rosas vermelhas, já que não possui nenhuma ligação com o demônio.
Lobisomem Amaldiçoado:
Este último tipo de lobisomem é o que mais me chama atenção. Tal lobisomem seria algum homem que ao fazer mal a alguma bruxa ou feiticeira cigana (Madji), sendo transformado em lobisomem como forma de castigo. É o típico lobisomem descontrolado e sem qualquer tipo de consciência não reconhece amigos nem inimigos, apenas outros lobisomens de sua espécie. Não possuem ligações com os lobisomens infectados, nem com os verdadeiros. Transformam-se nas noites de lua cheia. Seu único ponto fraco é são armas feitas de prata pura. São muito comuns nas lendas da Idade Média, haja vista que nesse período bruxas e feiticeiras eram comuns. Grande parte desses lobisomens não podem infectar outros homens, mas isso depende da maldição que a bruxa haver jogado na vítima. Para curar tal maldição é necessário que o lobisomem receba o perdão da bruxa, ou de algum parente próximo dela no caso das ciganas, ou através de rituais mágicos complicadíssimos. Mulheres não podem ser amaldiçoadas, pois tem resistência corporal à maldição.
Subespécies:
Algumas lendas abordam subtipos de lobisomens como lobisomem branco, cinzento, negro, marrom, etc. Isso talvez se deva pelo fato de assim como os lobos apresentarem subespécies os lobisomens também devia apresenta-las. No entanto, as subespécies dos lobisomens geralmente são dadas pela cor, tamanho ou resistência da criatura em comparação às outras.
5-Dieta
Os lobisomens possuem uma dieta muito simples: carne crua e de preferencia fresca. Em algumas lendas preferem bebes recém nascidos, crianças e moças jovens. Em outras qualquer animal serve desde uma simples cabra até um boi ou humano. No entanto, esse é o único tipo de alimento de um lobisomem quando transformado. Na Europa eles eram relacionados aos assassinatos em que só eram encontrados partes da pessoa, deixando apenas membros estraçalhados pelas florestas. A eles também são atribuídos o sumiço de pessoas durante noites de lua cheia.
6-Pontos Fracos
Os lobisomens possuem poucos pontos fracos, os filhos de Licaon e os amaldiçoados, por exemplo, são os mais resistentes. Os primeiros são vulneráveis como qualquer humano quando na fase de hominídeo, e na fase de lobisomem ou lobo somente a decapitação pode mata-los. Os segundos são criaturas robustas e de pele dura tendo como único ponto fraco armas feitas de prata (não há uma explicação do porque, mas dizem que tal metal reage com o sangue do amaldiçoado causando hemorragias internas, ou pelo fato de ser o único material que penetra o couro dos mesmos), sendo também a decapitação ou danos no coração a única maneira de derrota-los.
Os lobisomens infectados ou ritualísticos, são mais vulneráveis a armas alternativas, como as plantas Beladona e Wolfsbane. Esses primeiros são vitimas fáceis de armas de prata, porém resistentes a símbolos religiosos e roseiras. Já os segundos são frágeis em vários aspectos como símbolos religiosos, roseiras, beladonas, Wolfsbane, armas de prata e decapitações. É importante frisar que todos os tipos de lobisomens são mortais quando na fase de hominídeos.
Em algumas histórias lobisomens são utilizados como armas de guerra por reis e imperadores, sendo presos em jaulas e quando necessário ou em ultima instância liberados contra o inimigo. No entanto, quando se tratava de lobisomens amaldiçoados e infectados devia-se ter  bastante cuidado, já que atacavam tudo que aparecia em sua frente.
7-Conclusão
Como podemos ver os lobisomens povoam o imaginário humano há milênios, sendo abordados de maneiras diferentes em cada região e/ou cultura. No entanto, tem-se que frisar que não existe um único tipo de lobisomem verdadeiro e que os demais são falácias, mas que cada cultura aborda o seu, assim como cada religião tem seu deus.
Mas creio que isso não é relevante, já que tais monstros não passam de alusões humanas aos seus medos da natureza assim como grande parte dos mitos. Entretanto, reais ou não o que importa é que os lobisomens são uma das lendas mais interessantes e intrigantes da humanidade sendo um excelente atrativo à leitura de livros sobre o assunto mesmo porque saber um pouco mais nunca é demais.
Por fim vale lembrar que esse texto foi redigido com base em alguns livros e textos, e pode ter omitido de maneira não intencional algumas informações. Caso saibam de algo que faltou comente aqui ou no avise pelo facebook ou email. Hail meus caros Taberneiros!
 FIM





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