A Raça dos Lobisomens
Autor: Sauron, Taberna do
Guerreiro, David Lucas
Livro dos Lobisomens - Sabine Baring-Gould
1 – Incio
Falar
de lobisomens é um tanto complicado, pois é uma criatura abordada em lendas do
mundo inteiro, sendo notável nuances de país para país, de região para região
ou até mesmo em locais próximos. No entanto tentaremos nos embasar nos mitos
mais antigos e “originais” da Europa, principalmente daqueles que ocorriam na
Idade Média. Em nenhum momento levaremos em conta a lenda brasileira, já que
essa pode ser encontrada facilmente em livros e pela internet.
2-Origem da Lenda
Inicialmente
vamos falar um pouco da Lenda de Licaon que teoricamente dá origem aos mitos de
lobisomens. Licaon era um rei que viveu na Grécia Antiga que governava as
terras egeias de Licânia, sendo pai de 50 crianças e tendo várias esposas. Suas
terras eram as mais afortunadas da região e eram visitadas conspicuamente por
deuses, sendo os mais frequentes Apolo e Atenas. Certo dia Zeus e Hera,
disfarçados de mortais, viajavam pela Grécia até que passaram por Licânia e lá
pediram abrigo ao seu soberano. Generoso e bondoso Licaon os concederam o
pedido.
Os
filhos de Licaon, desconfiados dos hóspedes, achando que eles não eram mortais
e sim mentirosos, procuram pela cidade uma criança e a mataram servindo sua
carne no banquete aos deuses. Conforme as lendas dizem a criança era um
dos filhos de Zeus com uma ninfa ou como uma influencia de Hera que
vingativa induziu a morte do filho de Arcádia, uma amante de Zeus.
Zeus
então ficou sabendo rapidamente do que houve e tomado pela fúria amaldiçoou os
50 filhos de Licaon, transformando-os em lobos assim como Licaon e os outros 17
filhos imortais de Licaon com ninfas deram origem a primeira raça de vampiros
os Vrikolakas. Sendo assim surgem as duas primeiras gerações de Vampiros e
Lobisomens.
Outra
lenda comum surgiu na Idade Média, onde Bruxas amaldiçoavam seus amantes ou
homens que as fizessem mal os transformando em aberrações metade lobo e metade
homem. Isso se deve pelo fato de os lobos serem muito temidos em certas regiões
da Europa. Nessas lendas a maldição ocorria nas noites de lua cheia e os
lobisomens só infectavam outros homens, mulheres não eram capazes de se
transformar graças a uma resistência natural do corpo feminino ao veneno dos
lobisomens. Tais monstros também não podiam ter filhos pelo fato de não terem mulheres na
espécie e por serem inférteis.
Uma
lenda mais atual e bem detalhada dos lobisomens vem do interior da Alemanha por
volta de 1591, mais corretamente das cidades de Colongne e Bedburg. Tal fato se
dava pelo fato das pessoas ainda temerem os lobos, evitando até mesmo viagens
longas de uma cidade para outra. Nesta época é relatado que era corriqueiro
encontrar membros humanos retalhados e espalhados por florestas, ruas e estradas.
A
primeira lenda de lobisomens registrada remete ao caso de Peter Stubbe. Numa
noite de caçada moradores buscavam acabar com os lobos da região que
atormentavam suas vidas, ao encurralarem um dos lobos atingiram-no com lanças e
arpões. Porém o animal não fugiu e começou a se transformar em um homem. Esse
homem era Peter Stubbe. Os aldeões conheciam Stubbe e o levaram para um
julgamento, sendo este torturado e declarou ter realizado 16 assassinatos
compreendendo 2 mulheres grávidas e 13 crianças. Segundo ele isso começou
quando fez um pacto com o Demônio. Mais tarde com a ajuda de um cinturão magico
passou a matar as pessoas, tanto reais quanto imaginárias. Posteriormente
ganhou poderes e transformava-se em lobo realizando crimes ainda mais cruéis.
Após condenado Peter teve sua pele arrancada, braços e pernas quebrados e
finalmente foi decapitado. Sua lenda se espalhou pelo mundo, sendo talvez a
primeira lenda registrada de licantropia.
3-Cientificamente
Para
a ciência a licantropia seria uma doença real (do grego “”lykoi” – lobo e
”anthopos” homem) que deu origem à lenda do lobisomem como conhecemos hoje. As
vítimas dessa doença agem como se fossem lobos e acreditam que os são. No
entanto, tal doença não gera qualquer tipo de distúrbio físico, somente o
mental, isto é, a pessoa somente crê que é um lobisomem, mas jamais se
transforma em um.
Existe
também uma segunda explicação que remete ao período medieval, mais precisamente
na dieta de aldeões que consistia basicamente em pão, podendo estes estar
infectados por um fungo chamado Ergot. Este fungo possuía alcaloides
quimicamente relacionados com Ácido Lisérgico vulgarmente conhecido como LSD.
Tal substância causava alucinações fortíssimas, mudanças de humor, perda da
percepção do espaço e tempo, perda de autocontrole e surtos de agressividade.
Este fenômeno insinua, que, as alucinações causadas por essa droga sejam a
origem dos mitos sobre lobisomens.
Outra
teoria assinala doenças como a raiva e a porphyria como possíveis causas da “licantropia
mental”. Na primeira um vírus que é transmitido pela mordida de animais como
cães, lobos e morcegos ataca o sistema nervoso gerando euforia descontrolada,
contrações dos músculos do pescoço e maxilar impedindo a vitima de beber água,
daí o segundo nome da doença: Hidrofobia. O infectado morre em cerca de 5 dias
após adquirir a doença.
Já a
porphyria é marcada por apresentar algumas características muito semelhantes
àquelas mencionadas nos casos de licantropia. Ela leva a vítima a ter
sensibilidade à luz, fazendo-a preferir locais escuros e andar a
noite(fotosensibilidade). Além disso, a pele passa a perder sua cor natural
ficando com uma aparência doentia. Outra característica marcante é a
vermelhidão dos dentes e unhas do infectado devido ao acumulo de um
constituinte da hemoglobina do sangue. Tal doença, além de tudo, vem escoltada
por uma gama de alucinações e delírios.
4-Tipos de
Licantropia
Apesar
de tudo e como foi dito no inicio deste texto os lobisomens aparecem nas
estórias de várias maneiras e sendo vítima de vários fatores. Dentre eles
maldições, feitiços, doenças, etc. Para tal os lobisomens foram divididos em 3
tipos principais:
Lobisomem Natural ou
Verdadeiro:
A
licantropia natural ou verdadeira é aquela que se refere ao homem que nasceu
lobisomem ou foi transformado por motivos genéticos ou se voluntariou em algum
ritual. É muito comum na Idade Média. Tal licantropo é tido como detentor de
autocontrole sobre sua transformação e tem consciência de seus atos quando na
forma de lobo.
O
homem que já nascem lobisomem é chamado de filho de Licaon (descendência com o
rei grego), já aqueles que se transformam em através de rituais e pactos
demoníacos são chamados de Lobisomens Ritualísticos. A única diferença entre
esses dois tipos é que o ultimo possui uma certa fragilidade à símbolos
religiosos. Vale lembrar que aquelas que já nascem lobisomens só terão sua
“doença” despertada na puberdade.
Este
tipo de lobisomem necessita se alimentar de carne fresca pelo menos uma vez por
dia, ou perdem o controle de seus “poderes” e podem ficar descontrolados
atacando qualquer pessoa que ver, inclusive seus familiares e amigos. Além
disso, podem acabar se transformando em lobo para sempre. Nesse tipo de
licantropia tanto homem quanto mulheres se transformam em lobos. Sendo ainda
por cima frágeis a prata (não é explicado o porque de tal fragilidade).
Algumas
plantas místicas como a Beladona, Wolfsbane e a Barreira das Rosas Vermelhas
não surtem efeito com filhos de Licaon, mas são úteis contra Ritualísticos,
pois causam danos a estes quando as tocam ou ingerem. No caso das barreiras de
roseiras, os ritualísticos assim como qualquer criatura demoníaca, não
conseguem ultrapassá-las; por isso são comuns em algumas cidades pequenas e
vilarejos casas cercadas por roseiras vermelhas.
Os
Lobisomens Verdadeiros e Ritualísticos adquirem apenas três formas: Humano
(Hominídeo), Lobisomem (Glabro) e Lobo (Lupino), mas pode se demudar quando
quiser (não estando restritos às noites de luz cheia).
Lobisomem Infectado:
Seria
aquele que se transforma a partir da mordida ou arranhão de um lobisomem
verdadeiro. Esse tipo por sua vez não possui controle algum de suas
transformações que ocorrem nas noites de lua cheia. Além disso não possui
lembranças de seus atos quando metamorfoseado. Geralmente é encontrado com
roupas rasgadas e desmaiado por vários locais. Só possui duas formas Hominídeo
e Lobisomem, sendo desprovido da transformação em lobo.
Quando
transformados seu primeiro anseio é alimentar-se de carne fresca e crua,
atacando qualquer um que surge em sua frente; em certos casos pode reconhecer
amigos e parentes. São vulneráveis à Beladona e Wolfsbane, porém são imunes às
barreiras de rosas vermelhas, já que não possui nenhuma ligação com o demônio.
Lobisomem Amaldiçoado:
Este
último tipo de lobisomem é o que mais me chama atenção. Tal lobisomem seria
algum homem que ao fazer mal a alguma bruxa ou feiticeira cigana (Madji), sendo
transformado em lobisomem como forma de castigo. É o típico lobisomem
descontrolado e sem qualquer tipo de consciência não reconhece amigos nem
inimigos, apenas outros lobisomens de sua espécie. Não possuem ligações com os
lobisomens infectados, nem com os verdadeiros. Transformam-se nas noites de lua
cheia. Seu único ponto fraco é são armas feitas de prata pura. São muito comuns
nas lendas da Idade Média, haja vista que nesse período bruxas e feiticeiras
eram comuns. Grande parte desses lobisomens não podem infectar outros homens,
mas isso depende da maldição que a bruxa haver jogado na vítima. Para curar tal
maldição é necessário que o lobisomem receba o perdão da bruxa, ou de algum
parente próximo dela no caso das ciganas, ou através de rituais mágicos
complicadíssimos. Mulheres não podem ser amaldiçoadas, pois tem resistência
corporal à maldição.
Subespécies:
Algumas
lendas abordam subtipos de lobisomens como lobisomem branco, cinzento, negro,
marrom, etc. Isso talvez se deva pelo fato de assim como os lobos apresentarem
subespécies os lobisomens também devia apresenta-las. No entanto, as
subespécies dos lobisomens geralmente são dadas pela cor, tamanho ou
resistência da criatura em comparação às outras.
5-Dieta
Os
lobisomens possuem uma dieta muito simples: carne crua e de preferencia fresca.
Em algumas lendas preferem bebes recém nascidos, crianças e moças jovens. Em
outras qualquer animal serve desde uma simples cabra até um boi ou humano. No
entanto, esse é o único tipo de alimento de um lobisomem quando transformado.
Na Europa eles eram relacionados aos assassinatos em que só eram encontrados
partes da pessoa, deixando apenas membros estraçalhados pelas florestas. A eles
também são atribuídos o sumiço de pessoas durante noites de lua cheia.
6-Pontos Fracos
Os
lobisomens possuem poucos pontos fracos, os filhos de Licaon e os amaldiçoados,
por exemplo, são os mais resistentes. Os primeiros são vulneráveis como
qualquer humano quando na fase de hominídeo, e na fase de lobisomem ou lobo
somente a decapitação pode mata-los. Os segundos são criaturas robustas e de
pele dura tendo como único ponto fraco armas feitas de prata (não há uma
explicação do porque, mas dizem que tal metal reage com o sangue do amaldiçoado
causando hemorragias internas, ou pelo fato de ser o único material que penetra
o couro dos mesmos), sendo também a decapitação ou danos no coração a única
maneira de derrota-los.
Os
lobisomens infectados ou ritualísticos, são mais vulneráveis a armas alternativas,
como as plantas Beladona e Wolfsbane. Esses primeiros são vitimas fáceis de
armas de prata, porém resistentes a símbolos religiosos e roseiras. Já os
segundos são frágeis em vários aspectos como símbolos religiosos, roseiras,
beladonas, Wolfsbane, armas de prata e decapitações. É importante frisar que
todos os tipos de lobisomens são mortais quando na fase de hominídeos.
Em
algumas histórias lobisomens são utilizados como armas de guerra por reis e
imperadores, sendo presos em jaulas e quando necessário ou em ultima instância
liberados contra o inimigo. No entanto, quando se tratava de lobisomens
amaldiçoados e infectados devia-se ter bastante cuidado, já que atacavam
tudo que aparecia em sua frente.
7-Conclusão
Como
podemos ver os lobisomens povoam o imaginário humano há milênios, sendo
abordados de maneiras diferentes em cada região e/ou cultura. No entanto,
tem-se que frisar que não existe um único tipo de lobisomem verdadeiro e que os
demais são falácias, mas que cada cultura aborda o seu, assim como cada
religião tem seu deus.
Mas
creio que isso não é relevante, já que tais monstros não passam de alusões
humanas aos seus medos da natureza assim como grande parte dos mitos.
Entretanto, reais ou não o que importa é que os lobisomens são uma das lendas
mais interessantes e intrigantes da humanidade sendo um excelente atrativo à
leitura de livros sobre o assunto mesmo porque saber um pouco mais nunca é
demais.
Por
fim vale lembrar que esse texto foi redigido com base em alguns livros e
textos, e pode ter omitido de maneira não intencional algumas informações. Caso
saibam de algo que faltou comente aqui ou no avise pelo facebook ou email. Hail
meus caros Taberneiros!
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