segunda-feira, 20 de maio de 2013


O Basilisco


O Basilisco é uma das criaturas mais espetaculares da mitologia grega. Sua origem é de certo modo incerto, mas mitologicamente seu nascimento é atribuído aos ovos de galináceos que foram chocados por sapos ou serpentes. A partir desse choco surgiria uma serpente com uma crista de galo, semelhante a uma coroa, dando-lhe um caráter de superioridade. Porém, a superioridade do basilisco não se restringia à aparência, sendo considerado o Rei das Serpentes.
Os contos gregos diziam que haviam diversas espécies de basilisco, sendo as mais conhecidas aquela que queimava todo indivíduo que se aproximava e uma outra que causava dores e paralisia muscular aos homens que olhassem em seus olhos. Esta última levava as vítimas à morte em questão de segundos já que a dor da paralisia era terrível. Um exemplo muito bem aplicado desta espécie de Basilisco aparece no segundo livro da série “Harry Potter” - A Câmara Secreta – que pode ser considerada bem fiel ao enredo mitológico.
Um exemplo dado por Thomas Bulfinch no seu “Livro de Ouro da Mitologia” é o de Ricardo III de Shakespeare, onde Lady Ana, responde aos elogios de Ricardo em referência aos seus belos olhos: “Fossem eles os do Basilisco, para te ferir de morte!”.
Outro fator que dava ao basilisco o título de Rei das Serpentes estava na obediência de todas as serpentes diante de sua presença ou por fugirem quando ouvissem seu grunhido, deixando o caminho livre para seu mestre. Nenhuma serpente ousava enfrentar o basilisco.
Basilisco representado como um ser metade galo e metade serpente
O naturalista romano, Plínio, descreveu o basilisco da seguinte forma: "Não arrasta o corpo, como as outras serpentes, por meio de uma flexão múltipla, mas avança firme e ereto. Mata os arbustos, não somente pelo contato, mas respirando sobre eles, e fende as rochas, tal é o poder maligno que nele existe." Acreditava-se que, se algum cavaleiro conseguisse ferir ou matar o basilisco também seria morto, pois o veneno do mesmo penetraria a lança ou espada atingindo o herói e até mesmo seu cavalo. No fim das contas a luta renderia na morte de todos os envolvidos. O veneno do basilisco era tão temido quanto seu olhar. Isto pode ser visto na alusão de Lucano nos seguintes versos:
Ele matou o basilisco em vão,
Deixando-o inerte no arenoso chão.
Corre o veneno através da lança
E mata o mouro, quando a mão alcança.
Como a mitologia foi propagada para outros povos, o mito de um ser tão fantástico não podia deixar de fantasiar outras histórias, chegando até mesmo aos contos dos santos, onde um cavaleiro iluminado pelo poder de Deus fez a serpente cair morta no chão pelo poder de sua lança ungida (alguma semelhança com São Jorge?).
Os grandes poderes dos basiliscos foram relatados por vários sábios como Galena, Aviceno, Scaliger entre outros. Embora alguns duvidassem de certas parte da lenda, a grande maioria a atestavam como verdadeira. O médico letrado, Jonston, assim observa que seria impossível o poder do basilisco matar sua presa com um único olhar, pois se isso fosse verdade ninguém teria sobrevivido para contar a lenda. Porém ele desconhecia o fato de que os “caçadores de basiliscos” levavam consigo um espelho ou superfície refletora, para que a criatura morresse ao ver a própria imagem.
Entretanto, o poderio dos basiliscos não eram páreos para um animal: a doninha. Este sim era o inimigo eterno do “Rei das Serpentes”. Não havia basilisco que fizesse uma doninha tremer. Brigas sangrentas eram travadas entre os dois animais. A doninha quando era mordida, fugia para algum local onde houvesse algum pé de arruda, e a ingeria, para que pudesse curar-se do veneno. A arruda era a única planta que não murchava diante do basilisco e por isso era atribuída à cura do veneno e proteção contra os olhos da serpente. Daí temos a superstição popular de que arruda é um excelente amuleto contra mal olhado de pessoas invejosas.
Outro animal que espantava o basilisco era o Galo ou as aves de rapina. Talvez seja pelo fato de estas terem as serpentes como fonte de alimento em sua cadeia alimentar. Alguns atribuem tal medo do basilisco pelos galos, pois estes nasciam dos ovos dos mesmos e sentiam-se inferiores.
Quando morto o basilisco era muito útil, sendo sua pele ou carcaça colocada no templo de Apolo, ou em casas particulares para espantar aranhas, pássaros e pragas, como corvos e andorinhas. Um exemplo disso era o templo de Diana que repelia qualquer andorinha ou pássaro que sobrevoasse por perto.
Por fim vale frisar que o aspecto geral de um basilisco é semelhante a uma serpente gigante (quando digo gigante, refiro-me ao tamanho incomum, maior que dos demais ofídios). Seus olhos possuíam cores fortes e penetrantes como laranja, amarelo e vermelho. Seus dentes eram relativamente pequenos, mas suas presas era enormes sendo as fontes do poderoso veneno que percorria seu corpo. Seus movimentos eram ligeiros e não demonstrava qualquer contração muscular ao se mover (mais uma vez destaco o Basilisco de Harry Potter, especialmente, aquele apresentado no filme, onde a movimentação se faz extremamente fiel aos dizeres mitológicos). Outras representações apresentam o basilisco como um animal híbrido, tendo características tanto de ofídios quanto galináceos.
Enfim, cabe a nós imaginar o que serviu de inspiração para a criação de tal mito. Seria uma espécie extinta de serpente? O temor natural dos humanos para com as serpentes, aliado a um relato exagerado do mesmo? Ou seria apenas a invenção de um adulto para assustar crianças da Grécia antiga? Talvez jamais descobriremos, mas de uma coisa temos certeza: basiliscos não existem mais, porém muitas pessoas adotaram sua posição com exímia perfeição!


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